segunda-feira, 5 de outubro de 2009
Prática e Maternidade
Há 2 anos, dia 15/10, nascia meu pequeno Oliver. Ser mãe é muito bom, curto muito apesar da canseira. Mas verdade seja dita: depois do nascimento dele, tudo mudou. Tinha esperanças de poder continuar minha prática sistematicamente, pelo menos 2x por semana...tinha esperança de me dedicar um pouco mais ao blog, ler mais, enfim... Se tornou bastante difícil ter tempo só pra mim, dançar então, virou luxo! E o que isso tudo acarreta? A falta de prática faz a gente esquecer, faz o corpo ficar muito mais pesado, os Hastas já não saem com aquela firmeza (energia) necessários. A postura se torna menos natural, mais forçada. A utilização do espaço (o desenho das linhas) não sai direito, a percurssão com os pés já não tem a mesma intensidade, sem falar que se fica muito mais ofegante por qualquer coreografia de 3 minutos. Enfim, a prática é um dos segredos de qualquer dança, certo? No BN mais ainda, pois jathis (seqüencias de passos) e abhinaya (expressão, por exemplo contando uma história) são esquecidos facilmente. Acabo revisando mentalmente muita coisa, quando no final de um dia, novamente não consegui praticar. Mas e o corpo depois obedece???? Queria mais tempo e mais energia e certamente mais disciplina. Como já falei antes, a falta de um Guru, faz a gente ficar assim, meio sem direção. Mantenho contato com todas as minhas professoras, mas elas não estão aqui pra me dar uma dura. Acho que sou aquele tipo de pessoa que trabalha melhor sob pressão. Ah, Senhor Shiva, eu queria tanto poder praticar mais...é, mais meu pequeno precisa de mim e é um bebê bastante exigente...talvez ele seja meu guru! Certamente tenho algo a aprender com isto. A angústia da não prática, me faz mal e sinto que devo tomar providências urgentes, antes que o trabalho de 12 anos fique somente em videos, fotos e cadernos cheios de anotações. Namaskar!
quinta-feira, 13 de agosto de 2009
Festa temática Caminho das Indias
Ontem, aconteceu em Porto Alegre uma festa temática Visões do Oriente e Caminho das Indias.
Tive a oportunidade de me apresentar com uma coreografia no primeiro bloco e outra no segundo. Teve de tudo um pouco. Dança do Ventre, Tribal, Bollywood, Bharatanatyam e outras cositas. Fui a terceira a dançar em ambos os blocos, e senti as conseqüências disso. Me senti um mico leão dourado, isso que nem segui todo o protocolo de uma apresentação tradicional. Foi apenas algo para ilustrar, a taste of dança clássica. Optei por coreografias curtas, simples e mais alegres. Não teria a oportunidade de explicar o que estava dançando, então...sempre acho válido dar uma tradução da letra, explicar alguns gestos. Alguns poderiam dizer: "ah, mas arte não se explica" e eu até concordo, mas definitivamente no caso da dança clássica indiana, explicações enriquecem muito uma performance. E sinto que algumas pessoas saem pensando: é muito belo, mas gostaria de saber o que aqueles gestos e expressões faciais significam. Acabam apreciando somente pelo valor estético, e todo o conteúdo filosófico e espiritual se perde, justamente o mais importante. Pra mim, em primeiro vem o aprendizado, como quem conta uma história e aprende com ela, acredito que o(a) bailarino(a) enriquece sua vida interna e alimenta sua alma através do conteúdo dançado. A estética é importante, mas não o mais importante, não pra mim. Tanto é que insisto em dançar mesmo estando (ainda!) acima do meu peso. Acho sim, que minha performance seria melhor se tivesse alguns quilos a menos (qualquer gota de auto-estima nesta hora faz a diferença) mas sei que, na India, muitas artistas maravilhosas nem sempre tem corpo de miss, nem tão pouco estão na tenra idade. Então, novamente a cultura. As pessoas são mais respeitadas pelo que são, pela sua história de vida e seu conhecimento e não imediatamente pela aparência física. Não que na India não se dê importância a forma f'ísica, e se dá, acho que cada vez mais, mas lá muita gente ainda pensa no talento antes da beleza. Mas como um de meus gurus sempre diz: "É preciso um equilibrio, boa técnica, boa aparência e bom conteúdo". A mais pura verdade, a gente sempre tem que pensar que alguma coisa pode melhorar, nossa técnica, nossa aparência, nossa devoção. Achar que se está no topo, é pura ilusão.
Tive a oportunidade de me apresentar com uma coreografia no primeiro bloco e outra no segundo. Teve de tudo um pouco. Dança do Ventre, Tribal, Bollywood, Bharatanatyam e outras cositas. Fui a terceira a dançar em ambos os blocos, e senti as conseqüências disso. Me senti um mico leão dourado, isso que nem segui todo o protocolo de uma apresentação tradicional. Foi apenas algo para ilustrar, a taste of dança clássica. Optei por coreografias curtas, simples e mais alegres. Não teria a oportunidade de explicar o que estava dançando, então...sempre acho válido dar uma tradução da letra, explicar alguns gestos. Alguns poderiam dizer: "ah, mas arte não se explica" e eu até concordo, mas definitivamente no caso da dança clássica indiana, explicações enriquecem muito uma performance. E sinto que algumas pessoas saem pensando: é muito belo, mas gostaria de saber o que aqueles gestos e expressões faciais significam. Acabam apreciando somente pelo valor estético, e todo o conteúdo filosófico e espiritual se perde, justamente o mais importante. Pra mim, em primeiro vem o aprendizado, como quem conta uma história e aprende com ela, acredito que o(a) bailarino(a) enriquece sua vida interna e alimenta sua alma através do conteúdo dançado. A estética é importante, mas não o mais importante, não pra mim. Tanto é que insisto em dançar mesmo estando (ainda!) acima do meu peso. Acho sim, que minha performance seria melhor se tivesse alguns quilos a menos (qualquer gota de auto-estima nesta hora faz a diferença) mas sei que, na India, muitas artistas maravilhosas nem sempre tem corpo de miss, nem tão pouco estão na tenra idade. Então, novamente a cultura. As pessoas são mais respeitadas pelo que são, pela sua história de vida e seu conhecimento e não imediatamente pela aparência física. Não que na India não se dê importância a forma f'ísica, e se dá, acho que cada vez mais, mas lá muita gente ainda pensa no talento antes da beleza. Mas como um de meus gurus sempre diz: "É preciso um equilibrio, boa técnica, boa aparência e bom conteúdo". A mais pura verdade, a gente sempre tem que pensar que alguma coisa pode melhorar, nossa técnica, nossa aparência, nossa devoção. Achar que se está no topo, é pura ilusão.
sábado, 6 de junho de 2009
E a novela, hein? Sobre Caminho das Indias
Faz tempo que quero falar sobre a novela. Ao mesmo tempo, como acabo assistindo umas 2 vezes por semana, queria saber exatamente sobre o que falar e como falar. Claro, sendo uma novela, a relidade é distorcida, os personagens esteoripados, algumas vezes "verdadeiras" caricaturas. Quando a novela se passa no Brasil, dá pra dizer que nossa realidade é assim? Então pra India também não. Em relação a dança clássica, a novela presta quase um desserviço. Já chegou ao ponto de a Maya terminar de "dançar"e o meu telefone tocar com alguém me pedindo pra ensinar a dança da novela. O poder da Rede Globo. Toda vez tenho que explicar, que existem vários estilos de dança indiana, que tem as clássicas, as folclóricas e as populares. Como Bollywood dance, uma mistura sem limites, onde entra desde elementos da dança clássica até hip hop. Falam até de uma febre de Bollywood...que a gente não vê aqui no sul. Teve até reportagem na Folha de São Paulo. Nada contra Bollywood dance. É que são coisas bem diferentes. Qualquer um pode, assistindo a um videoclip (os filmes indianos são cheios deles!) sair por aí dançando Bollywood. É facil, alegre e não requer prática nem habilidade. Já uma dança clássica é uma arte e, sabemos, tem toda outra proposta. Digamos que Bollywood está para dança clássica assim como balé está pra...sei lá, axé, pagode (confesso que sei pouco sobre estas). O fato é que se gera uma grande confusão. Penso que o ideal seria as pessoas se interessarem pela cultura indiana, e não somente por aquilo que vêem na novela. Mas, não, elas se fecham para aquilo que não está ali. Claro, generalizando. Como tudo, existe o lado bom e o lado ruim. Só o fato de existir uma novela sobre a India e seus costumes já faz muita gente relativizar, deixar de lado alguns preconceitos. Isso é muito bom. Mas, infelizmente, na adaptação para as massas, muitas coisas se perdem, e, como em uma tradução, se vai também parte da beleza desta cultura milenar tão rica, que tem tanto a nos ensinar.
sexta-feira, 16 de janeiro de 2009
Primeiros Passos

Nritta seria a parte rítmica, mais abstrata. Muitos dizem ser a dança pura. As sequências de Nritta em BN são compostas por unidades chamadas Adavus (falaremos deles em breve).
Nritya é a combinação da parte rítmica com o elemento teatral. Aqui idéias, emoções, conteúdo literário/poético são apresentados através de gestos e expressão facial.A este método de comunicação na dança chamamos de Abhinaya, um outro conceito indispensável. Segundo os tratados de dança são quatro tipos de abhinaya: Angika (expressão através de gestos e ações, usando os membros), Vaachika (expressão através das palavras, como uma poesia, letra da música), Aaharya (a maquiagem, a roupa, os ornamentos) e Saathvika (emoções e sentimentos).
Podemos, então, pensar numa análise combinatória de elementos. Gestos com as mãos (que são 2 e podem trabalhar juntas ou separadas) mais movimentos/ações, os olhos, expressão facial, as palavras, o ritmo...enfim, muitos elementos mesclando-se de diversas formas e a cada instante criando um novo significado. Falaremos a seguir nos dois elementos mais importantes nessa combinação: Mudras ou Hastas (gestos com as mãos) e Saathvika Abhinaya (a expressão dos sentimentos). Até breve! Namaskar!
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domingo, 21 de setembro de 2008
Dvds, Vcds e Cds e sites substiuem um guru?

Gente, cada é mais fácil achar material pra estudar dança indiana on-line! Fiz uma baita pesquisa e achei muita coisa. Até, recentemente adquiri algumas. Tem dvd, vcd, cd rom, sites e livros. Tem de tudo, de dança clássica em seus vários estilos, até bhangra e bollywood dance. Dos que adquiri, posso falar. São dvds, vcds e cd rom. Bastante didáticos e bem intencionados. Em todos eles, porém, se houve a mesma mensagem dada pelo artista apresentador: "Esse dvd (vcd, cdrom etc) é para ajudar estudantes em sua prática, complementar o aprendizado de aula, mas jamais deve substituir um guru." Claro, assistindo o dvd se pode ter uma ídéia do movimento, de sua seqüência, mas pra quem nunca viu dança indiana...fica complicado. São movimentos, em geral, bastante complexos. Dá pra confundir até quem sabe...imagina pra quem não conhece! São realmente ótimos como extra, como ilustração, para ajudar a memória e ter sempre uma fonte na hora da dúvida, mas pra sair dançando depois de decorar um ou 2 dvds é outra história. E quem vai verificar se a mera repetição do que está no video é boa, se há simetria (numa dança completamente geométrica), nos ângulos, na movimentação (diagonal, circular, linas retas para trás, para frente...) quem vai verificar abhinaya (a expressão, o olhar, o sentimento) posicão dos pés etc. É impossivel fazer tudo! Um guru pode, além de te dar toda a instruçao técnica, te dar percepção estética (o que fica bem para um corpo, pode não ficar tão bem pra outro) apontar problemas, e acima de tudo, te fazer entender, de dentro pra fora, que dançar é bem mais que apenas mover o corpo ao som da música. Ele te ensina, através da dança, tantas outras coisas. Minhas amadas gurus (como sinto falta delas!) eram muito mais que minhas professoras. Foram e ainda são, amigas/irmãs (aka, como as chamava).
Confesso que tem sido muito dificil praticar sem elas. Um espelho, uma câmera filmadora são meus ajudantes. Claro, um guru pode te mostrar, te ensinar, mas não pode praticar por ti. É nisso que tento me concentrar. Sem o olhar das minhas mestras, faço-as presentes no meu coração e mente, praticando e lembrando de toda energia e conhecimento que me transmitiram enquanto praticava na sua presença.E, assim, de certa forma, sinto que elas estão ali.
Lots of Pyar, my dear gurus Alice, Annalisa e Anita!
Confesso que tem sido muito dificil praticar sem elas. Um espelho, uma câmera filmadora são meus ajudantes. Claro, um guru pode te mostrar, te ensinar, mas não pode praticar por ti. É nisso que tento me concentrar. Sem o olhar das minhas mestras, faço-as presentes no meu coração e mente, praticando e lembrando de toda energia e conhecimento que me transmitiram enquanto praticava na sua presença.E, assim, de certa forma, sinto que elas estão ali.
Lots of Pyar, my dear gurus Alice, Annalisa e Anita!
sexta-feira, 1 de agosto de 2008
quarta-feira, 30 de julho de 2008
Dos Templos para Teatros e Auditórios II
Na postagem anterior acabei falando mais do aprendizado de dança, das diferenças entre aprender BN in loco e aprender aqui no ocidente. Assim também penso que dançar na India e dançar por aqui tenha diferentes sabores. Não que todo indiano seja especialista em dança, mas eles conhecem sua própria cultura, sua religião e linguagem corporal. Muitas coisas na dança são parte do gestual diário de um indiano. Outras são tão óbvias, a maioria conhece bem os passatempos do Sr. Krishna, o Ramayana, o Bhagavad Gita, e as histórias que envolvem Sr. Shiva, Vishnu, Brahma, Ganesha, etc ou as ações de um sacerdote ao realizar um puja, ou ainda uma mulher preparando manteiga e por aí vaí. Daí a primeira questão: o templo era o espaço perfeito. Os patrocinadores e corte, creio, eram o público quase perfeito, cultos e entendedores do valor de um Varnam e de quanto estudo, prática e devoção estava por trás de cada performance. Uma platéia indiana hoje em dia, claro, vai variar. Os conhecedores, vão ver uma performance, o público em geral outra. No ocidente, podemos dizer o mesmo. Os poucos conhecedores terão uma experiência, leigos outra. Certa vez vi aqui uma apresentação e tive a impressão de que estava vendo alguma coisa tipo dança indiana, mas que, para falar a verdade, era bem diferente. A experiência é diferente. A energia que circula é diferente. Muita gente que assistia não fazia a menor idéia do que realmente é dança indiana. Tiveram, certamente, uma outra experiência. Façamos uma analogia: é um pouco como conhecer um bom vinho e saber absorver todas as suas sutilezas, deixar que ele explore pelo menos dois dos teus sentidos: olfato e paladar. Quando não se tem o parâmetro, fica mais difícil ir mais profundamente. Não dá pra dizer que, necessariamente, os entendidos vão achar melhor, ou vão tirar maior proveito de uma apresentação, quer dizer que ambos, expert e leigo, vão sentir diferente. Mas, percorrendo caminhos distintos, chegarão ao mesmo lugar: o seu lugar divino. Puxa, olhem só onde eu vim parar...mas é bem isso: existe, digamos assim, uma reação química, entre arte e seu expectador, e cada indivíduo, baseando-se no seu conhecimento e percepção vai experenciar de sua forma. Isso vale pra todos, indiano e não indiano. O fato de hoje a dança indiana acontecer em vários e diferentes contextos é bom e ruim. Bom, porque mais pessoas podem regogizar-se com sua beleza e graciosidade, além de aprender algo sobre a cultura, mitologia e religião hindu. Isso serve para praticantes e espectadores. Ruim, porque, hoje cada vez mais difundida, há muitas adaptações, liberdadade e falta de controle no seu aprendizado. Por exemplo: pode-se dançar trecho da bíblia, mas daí a representar a paixão de Cristo ao ritmo de saltitantes di di teis... (diditeis são passos alegres, efervescentes e como os incluir em uma história com tom melancólico e triste desta passagem?) abre-se espaço para maior número de temas, sim, isso é bom, mas deve haver um cuidado para que a arte não perca totalmente suas características. Corre-se o risco de não estar representando bem nem o BN, nem a paixão de Cristo. Com isso é que se deve ter o maior cuidado.Outra coisinha: se existem pequenas variações de mestre pra mestre, escola pra escola, me pergunto o quanto do antigo Sadir/ Chinna Mela ainda faz parte do atual BN. Enfim, não há ISO9000 para atestar a qualidade nem do que está sendo ensinado, nem do que vem sendo apresentado. E é isso é que gera um certo desconforto, principalmente no ocidente: apropriar-se de algo tão sagrado e tradicional e adaptar com a segurança de que não se está criando um "alien"...Digamos que isso não é pra qualquer um. Pra mim é como preparar uma receita de comida indiana (ou japonesa, tailândesa, até mesmo italiana) aqui: não se pode achar todos os ingredientes. Existem coisas frescas, coisas que não existem mesmo fora do seu contexto, até dá pra adaptar, criar, mas o resultado jamais será o mesmo. O bom senso e o paladar, no caso da receita, e o senso estético, no caso da dança, é que vai determinar se o que se tem é algo aceitável (e agradável) ou não.
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