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sábado, 12 de novembro de 2011

Quando a ausência não significa não presença

Namastê!
Caros leitores e seguidores,
Quando tive a idéia de começar este blog sobre dança clássica indiana há alguns anos, tinha muitos ideais e idéias. Estava decidida a, através da internet (meio cada vez mais popular, fácil e rápido de comunicar nos dias de hoje) divulgar esta forma de arte de maneira correta, já que no Brasil pouco se sabia, talvez por falta de oportunidade ou interesse. Enfim, queria compartilhar tudo o que a arte indiana, especialmente a dança, havia me proporcionado: tanto aprendizado, alegria e crescimento. Peço desculpas, porém, por ser tão ausente na minha tarefa. Meu destino acabou me levando a caminhos tão distantes daqueles que eu gostaria...e ainda gosto de pensar que estou no controle...às vezes ainda é dificil olhar para trás e ver o tempo que passou e o pouco que fiz em relação a dança. No entanto, fico muito feliz por saber que eu posso ter parado (temporariamente, espero) mas que tem muita gente boa por aí continuando "nossa" tarefa. Obrigada, meninas do DIB!!! Vocês me deixam a sensação de que as pessoas cada vez mais se interessam e tentam aprender mais sobre dança indiana aqui no Brasil!!! É muito legal ver este progresso! Sinto que as "formiguinhas" agora não são tão poucas. Mesmo perante tantas dificuldades, é importante continuar a trabalhar para que mais e mais seres possam regogizar-se com tamanha beleza, divindade e com a verdadeira felicidade, que está dentro e não fora. Lembrando que inseridos em uma cultura ocidental, estamos fortemente condicionados ao que facil, rápido e descartável: a felicidade instantanea e completamente ilusória.
Namastê!

terça-feira, 9 de novembro de 2010


A todos os seguidores, visitantes e amigos um Feliz Deepavali, muita luz, prosperidade e sabedoria! Om Jay Lakshmi Mata!

sábado, 9 de outubro de 2010

Rasa

Sentindo necessidade de um pouco mais de teoria (do que mais me ocupo ultimamente) estava lendo um livro chamado A Modern Introduction to Indian Aesthetic Theory, escrito por S.S Barlingay. Leitura que me instigou a pensar e a escrever sobre o "sabor"da arte ou seja sobre rasa. Vamos definir um ponto de partida pra discutir este conceito tão importante: partiremos do Natyashastra, já que rasa pode adquirir diferentes sentidos dependendo de onde ela está escrita. Bharatamuni traz rasa diretamente do Atharvaveda quando fala de encenação/teatro. Ele a emprega quando fala de "drama" (sentido da palavra em Inglês) como arte performática. Pensando no texto (no poeta ou escritor, primeiramente, e depois nos outros elementos) Bharata acredita que teatro (isso inclui a dança) é uma espécie de continuum temporal que começa na experiência/sentimento do poeta/autor e que acaba na experiência/sentimento causado nos espectadores. No caso da dança, o primeiro se dá através da música/letra. Chegamos aqui ao conceito de bhava, um conceito sem o qual não podemos prosseguir. É importante não confundir rasa com bhava. Simplificando (talvez até demais!) Rasa é a experiência estética  enquanto que  bhava é o sentimento resultante desta experiência. Isto é bastante confuso na literatura, algumas fontes afirmam exatamente o oposto!!!  Enfim, acredito que o mais importante aqui, isso me foi dito por uma de minhas professoras, é entender que ambas são dois lados da mesma moeda:  uma não existe sem a outra, uma causa a outra e não existem separadamente. Na verdade parece mais complicado do que é. Podemos dividi-las em 3 tipos:
dominantes/ permanentes (sthayi)
transitórias (sancari)
e oriundas da mente ou temperamentais (sattvaja)
e as famosas navarasa são:
Sringaram (amor)
Veeram (heroismo)
Karuna (tristeza/compaixão)
Adbhuta (maravilhamento)
Raudra (ira)
Hasya (humor ou comédia)
Bhayanaka (medo ou pavor)
Bibhatsa (nojo/aversão)
Shanta (paz)

Vale lembrar que cada rasa tem sua bhava correspondente:
Sringaram (amor)  Rati
Veeram (heroismo) Utsaha
Karuna (tristeza/compaixão) Shoka
Adbhuta (maravilhamento) Vismaya
Raudra (ira) Krodh
Hasya (humor ou comédia) Hasa
Bhayanaka (medo ou pavor) Bhaya
Bibhatsa (nojo/aversão) Jugupsa
Shanta (paz) Calm

Espero te-los provocado a pensar sobre elementos tão importantes da dança clássica indiana.
Namastê e Ahimsa!

Este é um belo video para ilustrar cada uma das rasas.http://www.indiavideo.org/kerala/arts/performing-art-forms/kathakali/navarasa-405.php

As bhavas correspondentes e o video foram retirados daqui.

terça-feira, 27 de julho de 2010

Com que música?

Olá! Falar em dança sem falar em música é impossivel. E falar em música quando se fala em BN (uma dança clássica) é falar em música carnática (música também clássica). Carnática pode ter surgido de Karnakata, estado ao sul da India. Lá, a música clássica se chama carnática, enquanto ao norte se chama hindustani. O cenário musical indiano é tão rico quanto suas tradições, lendas, deidades, linguas, religiões...são muitos séculos (ooops, milênios) de história, povos diversos, um colorido e complexo mosaico de arte, cultura, religião e conhecimento. Mas quando estamos falando de BN, a música é a carnática. Ah, então não se pode dançar qualquer música indiana? teoricamente não, na prática sim. Além da carnática, bhanjans e outras composições de fundo devocional e o que o talento e criatividade do artista conseguir criar também podem ser dançados. Tradicionalmente falando, porém, é na música carnática que se encontra o maior número de coreografias em BN. Especialmente Paddams, Varnams e Thillanas, que seriam "tipos" de composições.
Não me sinto qualificada o bastante pra falar teoricamente sobre música carnática, na verdade, sei bem menos do que gostaria. Sei o minimo pra conseguir acompanhar o ritmo (tala), a melodia (raga) e o tempo com decência. Com o pouco que aprendi, deu pra sentir a complexidade desta música, que é bastante precisa, pura matemática. Tampouco quero mostrar o que sei a respeito. Quero mesmo falar sobre uma característca comum a música clássica indiana, seja ela do norte ou do sul: o poder de alterar estados de consciência. É uma música muito poderosa, e sendo clássica, o nome já diz, não é fácil de ser apreciada. A música está ali, pronta, maravilhosa, mas será que nós estamos prontos pra recebê-la e compreender sua real dimensão? Certamente ela alcança e enriquece nosso mundo interior (e nosso ambiente) com vibrações específicas (e benéficas), não é algo dizível, explicável. Muitas vezes ao estudar/escutar música carnática (na prática de BN isso também acontece) tive a nítida impressão de estar em um mundo a parte, perfeito e belíssimo, e quando ao lembrar das minhas atividades cotidianas, ficava aquele pensamento: "Agora tenho que voltar pro meu mundinho e voltar pra minha vidinha, porque não posso ficar aqui, lidando com a beleza poética criada por estes seres maravilhosos? Bem, aconselho dar uma atenção especial a música indiana, incorporá-la no seu dia a dia seria altamente inteligente e sensato. Espero já ter dado uma dica do porquê.
Faltou falar muita coisa, sobre a Trindade Sagrada, sobre as composições, mas pretendo preparar mais um post sobre música. Em breve!
Namaskar!

segunda-feira, 26 de abril de 2010

Dança Massala

Namaskar! Hoje resolvi falar sobre alguns trabalhos de dança indiana que podemos ver aqui no Brasil, feitos por brasileiros. Mas primeiro queria falar duma coisa típica nossa: a mania de misturar. Não que isso seja de todo mal, sai muita coisa boa da mistura: na culinária, na música, nas artes em geral, no próprio povo. É uma mistureba do principio ao fim. Vejamos alguns exemplos: um italiano tem arrepios se dissermos que comemos pizza com banana e doce de leite, ou de brigadeiro. Um japonês, faz aquela careta quando a gente fala do sushi com  manga e cream cheese, e por aí vai. Gostamos de misturar, é natural pra gente. Somos pura mistura. E na dança não seria diferente. No site da Natyalaya, uma das únicas escolas de dança indiana no Brasil, explica-se o estilo de dança criado pela fundadora, Patricia Romano, o Massala Dance. Segundo o site, este estilo de dança é uma mistura (massala quer dizer mistura de temperos na India) de BN, Kuchipudi, Mohinyattam, Odissi e  Kathak) combinados com a moderna música Hindi do cinema indiano. O texto ainda acrescenta que Massala Dance, apesar de moderno, foi reconhecido pela Guru de Patricia (Shrimathi Kalamandalam) como sendo "clássico" pois incorpora as técnicas assim como estão descritas no Natyashastra. Um clássico modernizado, digamos assim.
Pelo que conheci de Massala Dance, achei interessante. Me parece uma tentativa bastante sincera de mistura. É muito uma questão de gosto e gosto não se discute. O único problema é que, em geral, as pessoas não sabem nada sobre dança clássica indiana, daí acham tudo lindo maravilhoso. E, sabemos, nem sempre é assim. Seria bom sempre esclarecer o que está sendo dançado. Massala Dance não é tão energética, não faz meus pés pegarem fogo, nem meu coração bater mais forte.  É que BN é um casamento tão perfeito entre música carnática e dança que fica dificil superar. Então todo o resto parece legal, mas nunca assim tão maravilhoso. Esta pelo menos é a minha opinião. Tudo, música, ornamentos, roupa, movimentos,expressões, maquiagem, formam um conjunto insuperável. É um kit perfeição, divino! Só podia ter sido presente dos Deuses. Eles, ao contrário de nós, sabem o que fazem!

Queria ainda falar somente do aharya abhinaya (roupa e maquigem). Alguns grupos de dança aqui usam a roupa e a maquiagem tradicional pra apresentar coreografias bollywood. Novamente a mistura. Novamente, pergunto: se cria o mesmo sentimento estético? Será que as pessoas que assim se apresentam pensaram naquilo que queriam como resultado final, ou simplesmente acharam que sendo uma bela roupa, serviria a seus propósitos? Bem, deixo pra vcs pensarem...

Krishna Sharana, nossas conversas tem sido inspiradoras pros textos nos blog. Obrigada!

quarta-feira, 10 de março de 2010

Autocrítica

Namastê!
Algumas pessoas tem me acusado de ser conservadora e radical. Relendo alguns posts mais antigos acabo de me dar conta que realmente escrevo com este tom. Em outros momentos, pareço também pessimista e negativa, dizendo que na dança clássica indiana, só são artistas mesmo os indianos e aqueles que fazem tudo exatamente como estes. Parece que não ser indiano impossibilita a pessoa de praticar esta dança. E não é assim que penso. Existem muitos bons artistas não indianos. Nem todo artista/ bailarino indiano é maravilhoso. Queria esclarecer. Penso que indianos sabem melhor o que é aceitável e inaceitável em sua própria cultura, não indianos, podem ter dificuldade em identificar algumas coisas. Queria dizer ainda que tenho tamanho respeito pela cultura e tradição indiana, mas não acredito que a dança sobreviveria todos estes anos (aproximadamente 2000) se muitos artistas não tivessem adaptado, inovado, criado algo além. Enfim, não tivessem feito BN evoluir e se espalhar pelo mundo a fora. O que ainda insisto, porém,  é no cuidado que devemos (nós,estrangeirtos) ter quando inovamos/criamos algo: não se deve jamais fazer algo desrespeitoso em relação a cultura do outro. Assim, simplesmente. O que não é tão simples assim. Acho até que já falei isso aqui. Fazendo uma analogia (mais uma?!) é como falar outra lingua, nossa segunda lingua. Podemos falar perfeitamente, sabemos gramática, vocabulário, pronuncia, mas estamos bastante expostos ao risco do erro pragmático. E sempre foi esta a minha preocupação.
Agradeço as criticas e espero por elas. Sempre nos fazem repensar e tentar buscar mais coerencia para aquilo que dizemos. Ás vezes o problema não é o que a gente diz, mas como a gente diz.