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segunda-feira, 30 de novembro de 2009

terça-feira, 17 de novembro de 2009

Mudras ou Hastas


Algumas postagens atrás me propus a falar de teoria em dança, particularmente na teoria do BN, da qual eu posso falar. Nossos primeiros passos nos guiaram através de conceitos gerais, como Nritta/Nrittya, abhinaya, adavus, etc. Paramos quando íamos falar dos mudras ou hastas, os gestos das mãos. Lembro que já em 1995, achei um livro chamado: Mudrás - As mãos como símbolo do Cosmos de Ingrid Ramm- Bonwitt. Naquele tempo eu sabia muito pouco, ou melhor, quase nada sobre dança clássica indiana. Este foi o livro no qual tive o meu primeiro contato. Lembro que lia e relia o livro tentando imaginar os movimentos, tentando imaginar a música e a dança. Logo no primeiro capítulo a autora já nos fala na dança, como sendo a origem das mudras, que ela chama de gestos místicos das mãos. "As mudras", nos diz, "estas posturas simbolicas dos dedos (...) podem representar plasticamente determinados estados ou processos da consciência. Mas as posturas determindas podem também, ao contrário, levar aos estados de consciência que simbolizam". Parece me que aqui, estamos tratando as mãos como um microcosmo, como se elas fossem a equivalência do corpo nas posturas do Yoga, trazendo assim, benefícios físicos, mentais e espirituais ao praticante.
 O Natyashastra, o livro clássico (a biblia) das artes dramáticas da India tem um capítulo inteirinho dedicado às mudras. Lá são divididos primeiramente em duas categorias:
Asamyuta Hastas (gestos com uma mão) que totalizam 28 gestos (sempre com algumas variações).
Samyuta Hastas (gestos com as duas mãos) que são 24. Posteriormente, ainda são descritas as combinações e ações possíveis, como Pataka Hasta Vinyogas, Tripataka Hasta Vinyogas e assim por diante. Vários dvds e alguns sites de dança hoje em dia, mostram a seqüência de gestos, e não apenas ilustram, mas ensinam a fazê-los.
Mas não só de dança vivem os mudras. Eles também são amplamente usados na iconografia, tanto hindu como budista, também no Yoga e em alguns rituais. Repare ao seu redor, os gestos simbolicos das mãos estão por toda parte.
Os mudras são muito poderosos, através deles o bailarino pode descrever todo o universo. Ele pode usa-los tanto pra falar de vitórias, quanto para falar de derrotas, assim também da alegria e da tristeza, do amor e da aversão, etc sem precisar de nada além de suas mãos (e sua expressão). É muito interessante pensar no uso das mãos para além do necessário no dia a dia. Elas podem dançar, e dizem mais, falam (como nos sugere Ingrid) a lingua dos Cosmos.
Namaskar!
 Alguns beneficios dos Mudras

quarta-feira, 4 de novembro de 2009

Poesia no Cotidiano

Lendo uma reportagem em uma revista semanal vi a seguinte frase:"quem vai a India, nunca mais é a mesma pessoa". Pura verdade. Simplesmente não tem como. Mesmo que a pessoa se hospede no Hilton. A India, além das cores, sabores e aromas, oferece uma viagem além do deslocamento geográfico: uma viagem em nosso interior, a relativização que nos falta pra ver o mundo e as pessoas com outros olhos. Não é a toa que em muitos filmes, os personagens, depois de um trauma, uma crise, etc, vão parar onde? Na India!!! É um refúgio, um lugar pra revolucionar a existência. Tem tantas coisas que jamais vou esquecer, como um dia em pleno Diwali (Festival das Luzes) uma jovem indiana desconhecida, perfumadíssima, me abraçou no meio da rua e me disse: Happy Diwali! O perfume ficou em mim até o outro dia. O sorriso dela carregava as lamparinas do Festival em pleno sol forte do Rajastão. Outra vez estava eu no rickshaw, parada na sinaleira,  quando um menino lindo, olhinhos brilhantes, veio pedir dinheiro, quando fiz sinal que não daria, ele começou a cantar a música da hora, provavelmente de um filme bollywood, que eu adorava! Claro que acabou ganhando seu troquinho. Ele sabia que ia funcionar. Os olhares penetrantes, como se conseguissem ver muito além do que está do lado de fora. As mulheres, sempre tão femininas e vaidosas. As guirlandas de flores nos templos. As donas de casa que lavam a entrada da casa antes do sol nascer e ali fazem Rangoli ( um belíssimo desenho feito com farinha) que convida Lakshmi (prosperidade) a entrar.Os vendedores de rua, preparando o Chae. Os varredores de rua, que tentam parecer invisíveis, o Puja no templo, os alfaites, os passadores de roupa, com ferro a carvão, enfim, a lista é enorme. A sensibilidade fica a flor da pele e a gente não pode deixar de ver a poesia que está tão presente em tudo. Sim, é uma visão romântica, mas é assim que escolhi ver este país tão paradoxal, intrigante, e para alguns, exótico. Afinal é assim que se vê alguém quando estamos apaixonados, e eu sempre serei apaixonada pela India e sua cultura.

segunda-feira, 5 de outubro de 2009

Prática e Maternidade

Há 2 anos, dia 15/10, nascia meu pequeno Oliver. Ser mãe é muito bom, curto muito apesar da canseira. Mas verdade seja dita: depois do nascimento dele, tudo mudou. Tinha esperanças de poder continuar minha prática sistematicamente, pelo menos 2x por semana...tinha esperança de me dedicar um pouco mais ao blog, ler mais, enfim... Se tornou bastante difícil ter tempo só pra mim, dançar então, virou luxo! E o que isso tudo acarreta? A falta de prática faz a gente esquecer, faz o corpo ficar muito mais pesado, os Hastas já não saem com aquela firmeza (energia) necessários. A postura se torna menos natural, mais forçada. A utilização do espaço (o desenho das linhas) não sai direito, a percurssão com os pés já não tem a mesma intensidade, sem falar que se fica muito mais ofegante por qualquer coreografia de 3 minutos. Enfim, a prática é um dos segredos de qualquer dança, certo? No BN mais ainda, pois jathis (seqüencias de passos) e abhinaya (expressão, por exemplo contando uma história) são esquecidos facilmente. Acabo revisando mentalmente muita coisa, quando no final de um dia, novamente não consegui praticar. Mas e o corpo depois obedece???? Queria mais tempo e mais energia e certamente mais disciplina. Como já falei antes, a falta de um Guru, faz a gente ficar assim, meio sem direção. Mantenho contato com todas as minhas professoras, mas elas não estão aqui pra me dar uma dura. Acho que sou aquele tipo de pessoa que trabalha melhor sob pressão. Ah, Senhor Shiva, eu queria tanto poder praticar mais...é, mais meu pequeno precisa de mim e é um bebê bastante exigente...talvez ele seja meu guru! Certamente tenho algo a aprender com isto. A angústia da não prática, me faz mal e sinto que devo tomar providências urgentes, antes que o trabalho de 12 anos fique somente em videos, fotos e cadernos cheios de anotações. Namaskar!

quinta-feira, 13 de agosto de 2009

Festa temática Caminho das Indias

Ontem, aconteceu em Porto Alegre uma festa temática Visões do Oriente e Caminho das Indias.
Tive a oportunidade de me apresentar com uma coreografia no primeiro bloco e outra no segundo. Teve de tudo um pouco. Dança do Ventre, Tribal, Bollywood, Bharatanatyam e outras cositas. Fui a terceira a dançar em ambos os blocos, e senti as conseqüências disso. Me senti um mico leão dourado, isso que nem segui todo o protocolo de uma apresentação tradicional. Foi apenas algo para ilustrar, a taste of dança clássica. Optei por coreografias curtas, simples e mais alegres. Não teria a oportunidade de explicar o que estava dançando, então...sempre acho válido dar uma tradução da letra, explicar alguns gestos. Alguns poderiam dizer: "ah, mas arte não se explica" e eu até concordo, mas definitivamente no caso da dança clássica indiana, explicações enriquecem muito uma performance. E sinto que algumas pessoas saem pensando: é muito belo, mas gostaria de saber o que aqueles gestos e expressões faciais significam. Acabam apreciando somente pelo valor estético, e todo o conteúdo filosófico e espiritual se perde, justamente o mais importante. Pra mim, em primeiro vem o aprendizado, como quem conta uma história e aprende com ela, acredito que o(a) bailarino(a) enriquece sua vida interna e alimenta sua alma através do conteúdo dançado. A estética é importante, mas não o mais importante, não pra mim. Tanto é que insisto em dançar mesmo estando (ainda!) acima do meu peso. Acho sim, que minha performance seria melhor se tivesse alguns quilos a menos (qualquer gota de auto-estima nesta hora faz a diferença) mas sei que, na India, muitas artistas maravilhosas nem sempre tem corpo de miss, nem tão pouco estão na tenra idade. Então, novamente a cultura. As pessoas são mais respeitadas pelo que são, pela sua história de vida e seu conhecimento e não imediatamente pela aparência física. Não que na India não se dê importância a forma f'ísica, e se dá, acho que cada vez mais, mas lá muita gente ainda pensa no talento antes da beleza. Mas como um de meus gurus sempre diz: "É preciso um equilibrio, boa técnica, boa aparência e bom conteúdo". A mais pura verdade, a gente sempre tem que pensar que alguma coisa pode melhorar, nossa técnica, nossa aparência, nossa devoção. Achar que se está no topo, é pura ilusão.

sábado, 6 de junho de 2009

E a novela, hein? Sobre Caminho das Indias

Faz tempo que quero falar sobre a novela. Ao mesmo tempo, como acabo assistindo umas 2 vezes por semana, queria saber exatamente sobre o que falar e como falar. Claro, sendo uma novela, a relidade é distorcida, os personagens esteoripados, algumas vezes "verdadeiras" caricaturas. Quando a novela se passa no Brasil, dá pra dizer que nossa realidade é assim? Então pra India também não. Em relação a dança clássica, a novela presta quase um desserviço. Já chegou ao ponto de a Maya terminar de "dançar"e o meu telefone tocar com alguém me pedindo pra ensinar a dança da novela. O poder da Rede Globo. Toda vez tenho que explicar, que existem vários estilos de dança indiana, que tem as clássicas, as folclóricas e as populares. Como Bollywood dance, uma mistura sem limites, onde entra desde elementos da dança clássica até hip hop. Falam até de uma febre de Bollywood...que a gente não vê aqui no sul. Teve até reportagem na Folha de São Paulo. Nada contra Bollywood dance. É que são coisas bem diferentes. Qualquer um pode, assistindo a um videoclip (os filmes indianos são cheios deles!) sair por aí dançando Bollywood. É facil, alegre e não requer prática nem habilidade. Já uma dança clássica é uma arte e, sabemos, tem toda outra proposta. Digamos que Bollywood está para dança clássica assim como balé está pra...sei lá, axé, pagode (confesso que sei pouco sobre estas). O fato é que se gera uma grande confusão. Penso que o ideal seria as pessoas se interessarem pela cultura indiana, e não somente por aquilo que vêem na novela. Mas, não, elas se fecham para aquilo que não está ali. Claro, generalizando. Como tudo, existe o lado bom e o lado ruim. Só o fato de existir uma novela sobre a India e seus costumes já faz muita gente relativizar, deixar de lado alguns preconceitos. Isso é muito bom. Mas, infelizmente, na adaptação para as massas, muitas coisas se perdem, e, como em uma tradução, se vai também parte da beleza desta cultura milenar tão rica, que tem tanto a nos ensinar.

sexta-feira, 16 de janeiro de 2009

Primeiros Passos

Namaskar! Depois de um tempo sem tempo para continuar o blog, hoje vou falar um pouco da estrutura do BN. Uma das qualidades, aquela que mais nos chama a atenção em um primeiro momento, é a riqueza de detalhes. Mãos, olhos, cabeça, pescoço, sobrancelhas, tronco e pés, tudo dança. O corpo trabalha minuciosamente cada parte, sem deixar de formar um todo (não é à toa que muitos anos de estudo e prática ainda podem ser pouco...) mesmo quando estático, muitas vezes em poses da iconografia hindu, este corpo transborda significado. Pode-se recriar o universo sem precisar de um objeto sequer. Os gestos podem mais que as palavras, mais que um cenário. As possibilidades são ilimitadas. Como isso é possível? Não podemos responder a esta pergunta sem antes entender dois conceitos importantíssimos: Nritta e Nritya.
Nritta seria a parte rítmica, mais abstrata. Muitos dizem ser a dança pura. As sequências de Nritta em BN são compostas por unidades chamadas Adavus (falaremos deles em breve).
Nritya é a combinação da parte rítmica com o elemento teatral. Aqui idéias, emoções, conteúdo literário/poético são apresentados através de gestos e expressão facial.A este método de comunicação na dança chamamos de Abhinaya, um outro conceito indispensável. Segundo os tratados de dança são quatro tipos de abhinaya: Angika (expressão através de gestos e ações, usando os membros), Vaachika (expressão através das palavras, como uma poesia, letra da música), Aaharya (a maquiagem, a roupa, os ornamentos) e Saathvika (emoções e sentimentos).
Podemos, então, pensar numa análise combinatória de elementos. Gestos com as mãos (que são 2 e podem trabalhar juntas ou separadas) mais movimentos/ações, os olhos, expressão facial, as palavras, o ritmo...enfim, muitos elementos mesclando-se de diversas formas e a cada instante criando um novo significado. Falaremos a seguir nos dois elementos mais importantes nessa combinação: Mudras ou Hastas (gestos com as mãos) e Saathvika Abhinaya (a expressão dos sentimentos). Até breve! Namaskar!